quinta-feira, 6 de maio de 2010

A ÉTICA EM FAVOR DA VIDA

Reflexões sobre o filme Quase Deuses.
Por: Percival Alves

Falar de ética hoje, acredito que é algo muito importante e necessário. Pois no mundo que nós vivemos, parece que essa palavra não existe, e se existe, tem sido interpretada de maneira muito aquém do que ela realmente significa e propõe.

São muitos os problemas que surgem em torno da ética, ou melhor, que impedem um agir eticamente correto, e entre esses, eu destaco a centralização do Eu. Onde a ética perde o seu lugar, quando se trata de defender os desejos e objetivos do Eu.

Gostaria de construir um comentário sobre ética, a partir do viés da vida, não apenas da vida do Eu simplesmente, e sim da vida como um todo, ou seja, a ética em favor da vida.

No filme “Quase deuses”, percebemos a luta do Dr. Blalock e do seu assistente Viviem em favor da vida. Em uma cena desse filme, o Dr. Blalock conta uma ilustração para seu assistente Viviem, onde um pequeno menino em desejo de pegar o gatinho de sua mãe em cima de uma árvore, acaba caindo e fraturando algumas costelas, quando ele é levado ao pronto socorro, com simplesmente o procedimento médico e ético da época, o menino morreria, no entanto, se fosse usado um método que um médico acabara de descobrir, poderia salvar a vida daquele menino. O problema é que aquele novo procedimento ainda não tinha sido comprovado e aceito pela medicina, e isso seria incorreto eticamente, no entanto para o Dr. Blalock, em nome da vida daquele menino, deveria ser feito. Perguntamos então, até que ponto o procedimento ético deve ser observado? Ou melhor, a ética, diante desse fato é mais importante do que a vida? Pergunto ainda, a ética existe por causa da vida ou a vida por causa da ética? Diante de todas essas indagações, quero fazer mais uma, seria anti-ético, tentar algum procedimento para salvar uma vida? São indagações que precisam pelo menos serem refletidas.

Em uma outra cena, não menos importante do que essa que foi citada acima, ocorre um problema tão sério quanto o que foi acabado de ser abordado. Na década de 30 e 40 do século XX, a medicina ainda não estava tão avançada como hoje, e falar em cirurgia do coração naquela época era praticamente falar de um crime, no entanto havia um bebê que estava com uma doença chamada Tetralogia de fallot, conhecida como bebê azul, e essa criança precisava ser operada do coração, pois teria apenas, cerca de seis a um ano de vida. Eticamente falando, aquela criança, pelo procedimento médico da época, estaria condenada a morte, porém o Dr. Blalock junto com seu assistente Viviem encontrou um meio de operar e tentar salvar a vida daquele bebê. Porém, eles não encontraram apoio médico para esse procedimento. Um dos médicos disse que seria impossível realizar aquela cirurgia, pois seria um grande risco. Mas o Dr. Blalock respondeu para ele, onde você ver riscos, eu vejo oportunidades. Mas a resistência não foi apenas por parte da ética médica, mas também da ética da Igreja católica, onde os pais foram conversar com o padre e ele foi contra, alegando que essa era a vontade de Deus. A mãe da criança em um ato de expressão do amor maternal, replica dizendo, porque Deus não permitiria que o médico realizasse o milagre da cirurgia e curasse a minha filha, dando-me assim muitas alegrias? Indagação de uma mãe que ama.

Percebemos nesse episódio o entrelaçamento entre ética, teologia e cultura, onde esses elementos no que diz respeito a vivência da humanidade, estão ligados uns aos outros em diálogo, ou melhor, eles precisam dialogarem, pois estão ligados uns aos outros.

Casos como esses em pleno século XXI ainda existem, onde denominações religiosas não permitem que a medicina faça a transfusão de sangue em seus fieis, preferindo que eles morram em nome da religião.

Diante desses casos, não podemos deixar de indagar. Será que Deus, realmente em nome da religião não permitiria fazer algum procedimento médico para salvar a vida de um dos seus filhos? Será que a Igreja, ao proibir isso, estaria agindo eticamente? Será que a lei, quando autoriza esse procedimento em nome da vida, estaria agindo eticamente? Eu acredito que ética, teologia e cultura precisam dialogarem, pois ambas estão entrelaçadas. E esse diálogo precisa ter como prioridade a vida.

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